terça-feira, 3 de março de 2009

Dia 3: Mulheres no Esporte

Ok, campo minado. Ainda que eu tenha me tornado um tanto... er... sedentária, eu adoro esportes. Pra praticar, eu tenho certas limitações, mas, para assistir, qualquer esporte é esporte! Mulheres chutando, batendo, derrubando, pulando... HOORAY!

Mas - como tudo na vida tem um 'mas' - nada é perfeito. Muitas atletas vêem suas carreiras mudarem com um título, uma vitória, e não necessariamente pra melhor: com a fama, vêm as propostas para posar nua e toda a sorte de coisas relacionadas. Não que isso não aconteça com homens, mas, dado o nosso histórico e contexto social, a maneira como isso ocorre e é encarado difere muito de um sexo para o outro.

Quem é que não se lembra da bandeirinha Ana Paula Oliveira, que posou para a Playboy em 2007 depois de ficar famosa através de suas arbitragens polêmicas? É uma história cheia de espinhos: primeiro porque, como uma das primeiras mulheres fiscalizando o campo, o trabalho dela foi previsivelmente questionado por marmanjos que acham que seus pênis são o centro do universo; depois, porque ela aceitou posar nua para a VIP, em seguida para a Playboy, o que é uma decisão pessoal, mas que afeta o modo de ver e serem vistas de futuras profissionais; por fim, pela decisão descabida da CBF de afastá-la da primeira divisão do Campeonato Brasileiro por ter aceitado fazer as fotos.

Antes de ser uma decisão pessoal, aceitar um convite para posar nua é algo que, como eu disse, afeta outras coisas. Primeiro, o profissionalismo da mulher em questão. Ela passa a ser vista como 'a mulher que posou para a Playboy' em vez de 'a bandeirinha da CBF'. Depois, o profissionalismo de TODAS as mulheres que têm a mesma profissão. Cria-se a expectativa de que elas vão fazer o mesmo - ainda mais quando a mulher que posou é pioneira na sua área. Mais do que tudo, as mais atingidas por isso são as novas gerações: as garotas vêem naquilo uma obrigação, algo que esperam que ela faça, um preço que ela paga pela fama - e até mesmo passa a achar desejável.

Quando é um homem posando, no entanto, a história é outra: no máximo faz-se algumas piadinhas, mas nada que atrapalhe a sua boa atuação. Um exemplo: se você procurar 'Vampeta' no Google Imagens (pesquisa de hoje, 03/03), vai ver que duas das dezoito imagens sobre ele são poses para a revista G. Se você fizer o mesmo com 'Danica Patrick', no entanto, vai encontrar nada menos do que catorze fotos da piloto em poses sexy.


'Skorts'?

Mulheres esportistas são cobradas o tempo todo para serem 'femininas'. Quem é que já viu alguma matéria do infâme Globo Esporte sobre a Seleção Feminina de futebol, por exemplo, sem que eles citem o famoso "...mas isso não impede que elas tenham vaidade"?

É algo visto o tempo todo e chega a extremos ridículos. Em 2001, a Fundação Paulista de Futebol resolveu 'embelezar' as atletas (aumentar salário e divulgar campeonato, que é bom, nada), convocando mulheres entre 17 e 23 anos para participar de seus seletivos. Outro exemplo são os uniformes super justos ou cor-de-rosa que são sugeridos vez ou outra.

Nesta semana aconteceu mais um desses episódios 'vamos feminilizar nossas atletas', dessa vez com os times americanos de futebol. A Puma promoveu um desfile onde as atletas divulgaram novos uniformes. A atração principal eram os skorts, mistura de shorts com saia (skirts + shorts = skorts). A explicação da Puma?

"PUMA brings a sense of fashion, flair and femininity to the kits with tailored jerseys, shorts and wraps. Although the uniforms have a more tailored silhouette, the technical materials, cuts and shapes are driven purely by performance, designed for the players to have the maximum flexibility to get them to the ball faster." - Women's Professional Soccer

Como mostrou uma blogueira do AfterEllen, os 'skorts' não eram a única opção: haviam também shorts que, ei!, são desenhados parar criar uma "silhueta mais feminina".

Não me levem a mal, garotas, mas essa é uma das coisas que eu considero que entra na categoria do 'tem hora pra tudo'. Assim como tem horas em que você quer estar bem-arrumada, tem horas - e correr uma hora e meia por um campo de futebol é uma delas - em que simplesmente não dá pra sair sem se despentear. Profissional é profissional. Corre, sua, cai, se suja na lama, se machuca. Quer ser dondoca? Então tá fazendo o que correndo atrás de uma bola?

Enquanto houver esse medo de encarar um esporte a sério e acabar musculosa (HÁ! Porque é SUPER fácil!), vai ser um pouco difícil, mesmo, ser levada a sério. Ainda mais vestindo um treco que se chama 'skorts'.