terça-feira, 9 de setembro de 2008

Have you really kissed a girl?


Desde que começou a aparecer na mídia, Katy Perry tem lançado muita polêmica com duas de suas músicas, You Are So Gay e I Kissed A Girl. Bem, eu ainda não me dei ao trabalho de ouvir a primeira, mas sobre esta segunda posso falar.

Desde o começo ela me chamou a atenção. Como já disse, sou vítima de musiquinhas catchy, e esta levou uns dez dias na minha cabeça até começar a me deixar em paz. A música não tem absolutamente nada de especial. E miss Perry é só mais uma cantora pop. Obviamente, a música tem causado certo rebuliço no mundo homo, mas por razões ligeiramente diferentes das que eu percebo.

Recentemente, uma das 'blogueiras' do AfterEllen fez uma breve análise da letra da música e se mostrou indignada a respeito de três pontos:

- "This was never the way I planned / not my intention / I got so brave drinking and / lost my discretion". Segundo Lo, estes versos sugeririam que uma garota só faz isto (beijar outra garota) quando está bêbada.

- Quando ela diz "hope my boyfrined don't mind it", ela não só estaria traindo o namorado, como ainda sabia que ele iria descobrir e esperava que fosse compreensivo, afinal, "que homem hétero se importaria de assistir sua namorada beijar outra garota"?

- Por fim, "it's not what good girls do" ainda defenderia a idéia de que lésbicas não são pessoas boas e o que fazem é errado.

Bem, não há dúvidas de que eu concordo com ela de que a música é realmente uma dor de cabeça, mas meus motivos são outros. No primeiro argumento de Lo, por exemplo, eu não vejo em absoluto o que ela sugere. Não acho que esteja implícito na letra que uma garota deve estar bêbada pra fazer isso. A música sugere um caso pessoal. No segundo caso, eu concordo mais, apesar de achar que o namorado realmente não se importaria - triste, mas verdade, já que nem ela estava levando a coisa a sério. E, finalmente, no terceiro caso eu discordo em absoluto. A cantora apenas citou uma idéia comum: a da good girl. Todo mundo sabe o que é isso. Moças de família, aquelas que são puras e castas. Este é um estereótipo ainda aplicado pela sociedade, com a idéia de que existem certos campos onde uma boa moça não bota os pés. E, claro, lesbianismo é um deles. Ou seja, quando ela diz que 'isto não é algo que uma good girl faça / não é como se devem comportar', ela apenas está repetindo uma idéia social, e não condenando as lésbicas ao inferno.

O buraco, ao meu ver, é bem mais embaixo. Veja estes versos, por exemplo:

"I kissed a girl / just to try it"; "You're my experimental game"; "It's no big deal / it's innocent".

Aí, sim, eu vejo uma certa hostilidade da cantora em relação à homossexualidade. Como se tudo fosse uma brincadeira, uma coisa que se faz por diversão e passa. 'Só para experimentar'. Quando ela diz que é [ uma coisa ] inocente, fica parecendo que meninas são naturalmente castas, não têm desejos, fazem isto por diversão. 'Inocente'. Só não é inocente quando é com homens.

Depois, em:

"Us, girls, we are so magical / soft skin, red lips, so kissable / hard to resist so touchable".

Bem... é assim tão difícil enxergar o problema aí? Garotas mágicas, peles macias, bocas vermelhas. Viva a objetificação, o padrão de beleza. Se não tem estes atributos, não é mágica. Posso parecer chata, mas não consigo entender como uma mulher pode não se sentir frustrada com isso. Não, estes versos não são elogio. Só dizem 'é bom não sair por aí com espinha no rosto e sem maquiagem, querida, ou você perde sua mágica'.

Enfim, já falei muito e só queria mesmo alertar o pessoal prás coisas que a gente ouve. Cuidado. Não tem problema nenhum ouvir, contanto que se saiba onde está pisando pra não cair em armadilhas. Eu mesma volta e meia ouço a tal música, mas cuido de tratar a senhorita Perry como ela me trata: não levo a sério.